Andar a pé promove a educação, a cidadania e a qualificação urbana. O emprego e a economia ficam a ganhar. A saúde pública, a qualidade de vida e a igualdade de género, também.

Andar a pé é o ato mais óbvio que praticamos para nos deslocarmos e foi, ao longo da história, o ato de locomoção mais utilizado até tempos mais recentes.

Razões pelas quais é necessário promover a mobilidade pedonal:

A educação, a cidadania e a qualidade da interação social

Por uma mudança de comportamento, mais cidadania e educação para a mobilidade. Andar a pé é o ato mais natural de mobilidade, mas nem sempre é uma opção atrativa ou possível por força das barreiras urbanísticas e arquitetónicas, do sentimento de insegurança rodoviária e da ausência de iluminação noturna. O ambiente da rua precisa de ser convidativo para andar a pé.

Pretende-se uma nova cultura de mobilidade assente em deslocações realizadas a pé e noutros modos ativos, na utilização do transporte público e na racionalização da utilização do transporte individual.

A qualificação urbana, a proximidade e o habitat

Importa que o meio ou o habitat humano permita maiores relações de proximidade, que as crianças possam ir a pé para a escola e que as pessoas com mobilidade condicionada possam deslocar-se.

O planeamento e o uso do solo são peças imprescindíveis para que a relação «casa-trabalho-escola-lazer» seja consequente e eficaz, proporcionando e potenciando a deslocação a pé, através de:

  • Redução do tempo e distância das deslocações diárias;
  • Gestão da mobilidade;
  • Reconversão de espaços ou de edifícios com usos obsoletos;
  • Ampliação da infraestrutura pedonal e de áreas de espaço público de convivialidade acessíveis a todos;
  • Implementação de áreas de coexistência;
  • Criação de infraestruturas verdes e azuis;
  • Introdução de mobiliário urbano inclusivo e informação urbana.

O ambiente e as alterações climáticas

De acordo com o Relatório do Estado do Ambiente, da Agência Portuguesa do Ambiente, 25,8% dos Gases com Efeito de Estufa são emitidos pelos transportes, em particular pelos movidos a derivados de combustíveis fósseis. É urgente, por isso, mudar o modelo de mobilidade dominante.

As deslocações realizadas a pé ou de bicicleta são opções mais racionais por consumirem menos recursos do que o transporte motorizado individual. Com elas, o transporte de pessoas e bens torna-se mais eficiente e com maiores benefícios para a saúde pública e individual. Enquanto a produção de um automóvel emite várias toneladas de CO2, produzir uma bicicleta e assegurar a sua manutenção consomem menos recursos.

A transferência para modos mais sustentáveis, como andar a pé e/ou de bicicleta, e uma maior aposta nos transportes públicos são formas eficazes de combate às alterações climáticas, proporcionando:

  • Redução das emissões poluentes e de Gases com Efeito de Estufa;
  • Melhoria da qualidade do ar;
  • Redução da poluição sonora;
  • Diminuição do congestionamento.

O emprego e a economia

O incremento da mobilidade pedonal pode alavancar alterações no tecido económico geradoras de emprego qualificado. A mobilidade pedonal contribui para reforçar os níveis de sociabilidade no espaço público e o seu usufruto e, com isso, as atividades económicas de proximidade ganham relevo.

Ao consumir localmente, estimula-se o crescimento do comércio de proximidade, dinamizam-se as relações com os produtores locais, estabelecendo um modelo económico de proximidade, incentivando o mercado de produtos biológicos, o comércio justo e, sobretudo, diminuindo a pegada ecológica.

Exemplos de cidades com forte dimensão pedonal são Vitoria-Gasteiz (rotas urbanas e de natureza), San Sebastian (rotas urbanas e de natureza), Bilbao (rotas urbanas e de natureza), Barcelona (rotas urbanas e de natureza), Liubliana (rotas urbanas e de natureza), entre outras, que com a melhoria das condições para andar a pé, registaram um incremento no turismo.

O turismo de natureza, com a prática de walking e de cycling, sai também beneficiado, sendo o andar a pé uma das melhores formas de descobrir o país e de combater a sazonalidade do setor. O projeto Portuguese Trails, do Turismo de Portugal, é um exemplo dessa dinamização.

No âmbito da economia e do emprego, deverá promover-se a:

  • Dinamização do comércio de rua e demais funções de proximidade, com o consequente aumento de emprego;
  • Dinamização da atividade económica dos produtores locais com possibilidade de estabelecerem modelos comerciais diretos com as lojas de rua e de proximidade;
  • Dinamização do turismo sustentável, o qual contribui para a redução da sazonalidade e propicia o turismo ativo, acessível e geriátrico;
  • Reabilitação urbana com condições de acessibilidade e inclusão para pessoas com mobilidade condicionada e da qualificação do espaço público.

A saúde pública e a qualidade de vida

Os sistemas universais de saúde devem privilegiar a dimensão preventiva em detrimento da dimensão curativa. Nesse sentido é hoje unânime a importância atribuída ao andar a pé. As estatísticas da Organização Mundial da Saúde colocam a inatividade física como fator de risco para o desenvolvimento de doenças crónicas não transmissíveis, como a diabetes, a depressão, as doenças cérebro-cardiovasculares, oncológicas e respiratórias, afetando 500 milhões de pessoas no Mundo e com um custo de 2,25 mil milhões de euros.

A análise empreendida durante a pandemia da doença COVID-19, presente no relatório da Organização das Nações Unidas Cities and Pandemics: Towards a More Just, Green and Healthy Future veio reforçar a importância da reconfiguração dos sistemas urbanos para gerar sustentabilidade nos territórios, assente numa visão holística de planeamento inclusivo.

No âmbito da saúde e da qualidade de vida, deverão ser estimuladas ações e medidas de:

  • Educação para uma nova cultura de prevenção de doenças através de estilos de vida ativos e saudáveis;
  • Prevenção de doenças cardiovasculares e outras, para as quais andar a pé quotidianamente apresenta benefícios;
  • Prevenção e controlo da obesidade, através da redução do sedentarismo e da inatividade física;
  • Redução das vítimas de sinistralidade rodoviária;
  • Melhoria dos níveis gerais de saúde e bem-estar da população;
  • Redução da incidência de problemas respiratórios;
  • Aumento dos níveis de literacia em saúde, potenciando a tomada de decisão relativamente ao modo de deslocação, valorizando o ato de andar a pé.

A igualdade de género

A análise das questões de género é reveladora de algumas especificidades dos padrões de mobilidade. Dados dos Censos 2021 e do Instituto da Mobilidade e dos Transportes revelam que 64% da população portuguesa possui carta de condução, sendo a maioria dos encartados do sexo masculino (56%).

Possuir carta de condução influencia a escolha pelo transporte individual. A maioria dos condutores do género masculino pode ajudar a explicar a feminização do transporte público. No caso do género feminino, a dupla e tripla jornada, leva a que as mulheres realizem mais viagens por maior número de motivos.

A relação entre a mobilidade pedonal e o transporte público é simbiótica. O aumento da procura do transporte público contribui para o aumento dos níveis de mobilidade pedonal e de mobilidade ciclável.

No âmbito da igualdade de género, do acesso e da segurança, deverá promover-se:

  • Aumento da oferta de transporte público, quer em distribuição espacial, quer em frequência, adaptado ao contexto social e temporal, assim como às necessidades específicas das pessoas com mobilidade condicionada;
  • Adaptação dos territórios ao andar a pé, tendo em conta as condições físicas, sensoriais e cognitivas de cada pessoa;
  • Melhoria da segurança rodoviária e pessoal.