Deslocar-se a pé pode ser mais do que ato de locomoção. Indo além dos prós e contras, apresenta-se uma visão resumida dos pontos fortes/oportunidades e dos pontos fracos/ameaças da mobilidade pedonal.

Passo a passo, deslocamo-nos diariamente. Andar a pé, distâncias mais curtas ou mais extensas, pode ser mais do que apenas um movimento físico natural. Das vantagens às desvantagens associadas às deslocações pedonais, passando pelas oportunidades que potencia e pelas condicionantes, a Estratégia Nacional para a Mobilidade Ativa Pedonal mostra, através de uma análise estratégica, uma perspetiva global do tema.

Pontos Fortes

Andar a pé é um modo de deslocação universal e a maioria das pessoas está fisicamente apta a fazê-lo. Deslocar-se de forma pedonal não acarreta, em princípio, qualquer custo para quem o faz.

Em distâncias curtas, ou em hora de ponta, é uma forma de mobilidade mais competitiva face aos transportes públicos ou ao transporte individual motorizado. Andar a pé «cola» todas as etapas de uma deslocação.

A deslocação pedonal é benéfica do ponto de vista ambiental, ao não gerar qualquer forma de poluição nem gastar energia.

É notória a perceção crescente da importância de andar a pé para a saúde pública. O exercício físico faz bem à forma física e contribui para a prevenção de doenças associadas ao sedentarismo.

Uma vez que, durante as deslocações, é provável que se conheçam pessoas novas ou se encontrem velhos conhecidos, uma outra vantagem é o estímulo à interação social e a potenciação de uma forte relação com as atividades de comércio, serviços e lazer/turismo. Um curto passeio pode transformar-se numa ida às compras ou no ponto de partida para dois dedos de conversa. E para desfrutar melhor do espaço público e dos locais aprazíveis que temos à nossa volta.

Oportunidades

Do ponto de vista do contexto social, o aumento da sensibilidade dos cidadãos aos problemas ambientais, e a subida dos custos diretos associados à utilização do automóvel (impostos, combustíveis, seguros e manutenção em geral) criam oportunidades para que as deslocações a pé ocupem um lugar mais favorável nas escolhas das pessoas.

A massa crítica para a adesão aos modos ativos está também a crescer, e para isso contribui, em muitas localidades, a reabilitação e a regeneração urbana, em que o urbanismo de proximidade (cidade dos 15 minutos), os Planos de Mobilidade Urbana Sustentável e, a educação de crianças e jovens para a mobilidade pedonal e a reorganização das redes de transporte coletivo resultante do Regime Jurídico do Serviço Público do Transporte de Passageiros vão fazendo o seu caminho.

Os fundos europeus são, em muitos casos, o «combustível» de algumas das maiores e mais dispendiosas mudanças, como a regeneração urbana e a mobilidade sustentável.

Pontos Fracos

Há desvantagens em escolher a deslocação pedonal? Algumas. A primeira é, ainda, não ser possível fazê-lo em todos o espaço público em boas condições. E outra poderá ser desadequado para percorrer longas distâncias e transportar volumes.

Se as condições meteorológicas, forem desfavoráveis, deslocar-se a pé pode ser menos agradável ou prático. Sem espaços verdes que sejam contínuos, poderá ser menos interessante.

A forma física importa na hora de andar a pé. E quando existem declives acentuados, para que todas as pessoas os possam vencer é recomendado que existam escadas rolantes e/ou elevadores.

Ameaças

O que constitui hoje uma ameaça ao crescimento das escolhas da deslocação a pé está, sobretudo, nos ecossistemas económico e social. O aumento da utilização e posse do automóvel, bem como das distâncias entre os locais onde, diariamente, devemos estar (trabalho, escola, locais de lazer), associados ao envelhecimento progressivo da população e à dispersão territorial da população e da habitação face às regras do mercado fundiário, são fatores ainda muito relevantes.

O desenho urbano desadequado à mobilidade pedonal, associado à desarticulação entre as políticas de ordenamento do território e de planeamento de transportes e da mobilidade, passando pelo, ainda, reduzido investimento público na otimização das redes pedonais, são influências igualmente negativas.

As alterações culturais e comportamentais são demoradas, e contextos como os ciclos curtos de pandemias e endemias, reduzem a procura e utilização desta forma de locomoção.

Feita a análise do que impulsiona ou constrange o avanço da mobilidade pedonal, torna-se mais claro o contributo que cada um pode assegurar, passo a passo, rumo à melhoria contínua das condições para uma boa mobilidade pedonal.